Para o economista e professor da PUC-SP Ladislau Dowbor, o mais recente corte de juros, definido na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que reduziu a taxa básica (Selic) de 13,75% para 13%, ainda é insuficiente, pois o Brasil ainda sustenta as mais altas taxas de juros do mundo. Segundo ele, os juros altos drenam recursos da economia real, transferindo parte expressiva da produção de riquezas para o sistema financeiro, que nada produz.
“É uma coisa surrealista. Aqui, hoje, é 13%. No tempo de Fernando Henrique Cardoso, estava na faixa de 20% a 30%. Esse recurso transfere dinheiro dos nossos impostos diretamente para os bancos”, afirma o professor, em entrevista à repórter Vanessa Nakasato, para o Seu Jornal, da TVT.
Segundo dados do BC, só em 2016, a taxa Selic elevada transferiu para o sistema financeiro um total de R$ 600 bilhões, soma que representa 11% do PIB. Dowbor explica que, além de consumir recursos de impostos que poderiam ser investidos em políticas públicas, a taxa Selic também estimula a alta dos juros bancários, e isso prejudica ainda mais a retomada da atividade econômica.
“Os crediários, juros bancários para pessoa física, o rotativo do cartão de crédito, cheque especial, todos tiveram aumentos de 10%, 20%, 30%, com esse novo governo dos banqueiros.” Para Dowbor, as elevadas taxas travam os três motores da economia: consumo das famílias, investimento das empresas e do governo.
“Os políticos estão utilizando hoje o governo como fonte para apropriação, segundo interesses de diversos grupos corporativos, em particular do sistema financeiro. Eles não estão interessados em políticas públicas”, denuncia o professor
Ele afirma ainda que as 11 famílias que controlam a mídia tradicional brasileira contribuem diretamente para a concentração de poder do sistema financeiro e a manutenção de privilégios da elite do país.
“Você tem também o controle da mídia, porque os principais financiadores da publicidade são justamente os grandes bancos. É só olhar. Grande parte do poder político, no Brasil, não é de produtores. É essencialmente de gente que vive do esforço dos outros. A mais-valia financeira é, ao mesmo tempo, politicamente muito poderosa, mas é extremamente vulnerável, porque não produz nada.”
por Redação RBA