As centrais sindicais a princípio mantêm o calendário de manifestações, que inclui ato na próxima quarta-feira (18) com movimentos sociais em defesa da educação, do emprego e de manutenção de direitos. Mas não descartam a suspensão do protesto, devido ao avanço da crise causada pelo coronavírus, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou pandemia, e eventos e atividades vêm sendo cancelados em vários países do mundo.
Reunidas na sede do Dieese, em São Paulo, as entidades avaliaram a “crise sanitária e econômica”, pedindo providências emergenciais das autoridades para conter a doença e suspensão de medidas em tramitação no Legislativo. “Defendemos um amplo diálogo com a sociedade e com o Congresso Nacional para definir as medidas necessárias para conter a crise do coronavírus e a crise econômica”, afirmam.
Depois de aproximadamente três horas de reunião, pelo menos três centrais defendiam a suspensão imediata da manifestação. Outras eram favoráveis à manutenção do calendário, mas monitorando a situação até lá, devido ao rápido avanço do vírus. Por isso, marcaram novo encontro para a manhã de segunda-feira (15), novamente na sede do Dieese, na região central da cidade.
Momento grave
“O momento é muito grave”, afirmou o presidente da CUT, Sérgio Nobre. “As centrais estão se colocando à disposição das autoridades para colaborar”, acrescentou, preocupado com os impactos econômicos e sociais da crise, especialmente em um momento em que o governo Bolsonaro está “desmontando o sistema de saúde”.
Ele se manifestou ainda mais preocupado com segmentos específicos de trabalhadores, como no setor de transporte coletivo e da área de saúde, além de profissionais da educação e crianças nas escolas. E falou sobre a possibilidade de empresas interromperem atividades, propondo redução de jornada e salário. Há ainda o cenário de ataque a direitos, caso da votação da Medida Provisória 905, da “carteira verde e amarela”, remarcada para a próxima terça (17) em comissão mista do Congresso.
O líder da CUT lembrou que o calendário está mantido. Em nota da direção executiva, a central afirma que “é preciso acompanhar a disseminação do coronavírus tanto como um problema de saúde pública quanto em relação a seus efeitos na economia, que pressupõem a tomada de medidas de proteção aos trabalhadores e trabalhadoras”. Assim, acrescentam os cutistas, “o governo tem de garantir a preservação dos empregos, garantias àqueles que tiverem de guardar quarentena, aos trabalhadores que atuam nas áreas da saúde, educação e atendimento ao público”. A entidade afirma ainda que os efeitos da pandemia “não podem ser utilizados para a retirada de direitos”.
O secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna, disse que a central é a favor de cancelar as manifestações públicas, mantendo apenas eventos em porta de fábrica, por exemplo – a posição foi acompanhada por CSB e UGT. “Estamos ouvindo os nossos sindicatos.”
Confira na íntegra a nota das centrais:
As Centrais Sindicais reunidas nesta quinta-feira, 12/03/2020, em São Paulo para discutir a declaração de pandemia global pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em decorrência do novo coronavírus se coloca na defesa de ações coletivas de prevenção à propagação do vírus e seus impactos sociais e econômico.
As entidades entendem que esse momento demanda do Estado brasileiro, em seus três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), a compreensão de sua excepcionalidade e a importância da ampla concentração das ações em medidas emergenciais para o enfrentamento da crise.
Ao mesmo tempo, as Centrais reivindicam a suspensão das discussões de medidas que atacam os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras no Congresso Nacional, como por exemplo, a MP 905/2019, a Carteira Verde Amarela. Nesse sentido, propomos um amplo diálogo com a sociedade e com o Congresso Nacional para definir as medidas necessárias para conter a crise do coronavírus e a crise econômica.
As Centrais Sindicais também reafirmam que é fundamental a abertura do debate para elaborar medidas emergenciais à proteção de todos os trabalhadores e trabalhadoras, formais e informais, e de seus empregos e renda, no período que a pandemia estiver decretada, além de medidas específicas para os trabalhadores e trabalhadoras da saúde, educação e transporte público que estão mais expostos ao contágio.
As entidades reforçam a relevância do fortalecimento da saúde pública, dos serviços públicos e de seus trabalhadores e trabalhadoras, considerando que nessa crise é fundamental para a mitigação dos riscos e o controle da doença, que ameaça se ampliar em nossopaís. Esse fortalecimento é fundamental para a proteção individual e coletiva e para a efetivação da tarefa social dos serviços públicos.
As Centrais Sindicais se mantêm em avaliação permanente, com uma reunião agendada na próxima segunda, dia 16, às 10h, na sede do DIEESE, em São Paulo, para discutir a crise sanitária e econômica em curso no país e para tomar as decisões que se fizerem necessárias nesse momento. As Centrais reforçam a importância das mobilizações da classe trabalhadora.
CUT – Central Única dos Trabalhadores
FS – Força Sindical
CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
NCST – Nova Central Sindical dos Trabalhadores
UGT – União Geral dos Trabalhadores
CGTB – Central Geral dos Trabalhadores do Brasil
CSB – Central dos Sindicatos Brasileiros
CSP – Conlutas – Central Sindical e Popular – Conlutas
Intersindical – Central da Classe Trabalhadora
Fonte: RBA/ Foto: Roberto Parizotti/CUT